Vasco volta a emplacar sequência com titulares jovens e lembra épocas de Romário, Edmundo, Bismarck,


Em meio às dificuldades financeiras e a inglória luta para voltar mais uma vez à elite nacional, o Vasco ao menos já tem uma pequena conquista a celebrar em 2014. A boa safra de atacantes formados nas categorias de base garantiu lugar no time ao trio Yago, Marquinhos e Thalles, que devem jogar pela terceira vez juntos neste sábado, contra o Oeste-SP. O fato parece comum a um clube que se notabilizou por revelar centroavantes renomados em sua história, mas basta olhar as últimas temporadas para descobrir que o passado recente não condiz com a tradição.
Desde 2008, quando Alex Teixeira e Alan Kardec jogaram parte do Campeonato Carioca lado a lado, o Cruz-Maltino não dá a responsabilidade dos gols à prata da casa. Apesar da cobrança, os dois vingaram no futebol - um é destaque no Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, e outro trocou o Palmeiras pelo São Paulo mês passado após polêmica. Antes, porém, é necessário fazer um esforço e regressar no tempo para lembrar quando este trabalho surtia efeito em São Januário.
O ápice foi entre o fim da década de 80 e o início da década de 90. Edmundo, Bismarck, Sorato e Valdir, entre outros ofensivos, surgiram em sequência e sucederam a geração de Romário. Cada um à sua maneira, deixaram marcas importantes no clube, mas, apesar da futura idolatria da torcida, não escaparam de sofrer com a impaciência e a pressão. Por isso, o hoje técnico dos juniores do Vasco espera que a transição seja por etapas e evite, assim, queimar seu ex-pupilos.
- Toda transição é assim: joga um pouco, sai, isso faz parte se não se trata de um craque que é difícil de aparecer. A pressão é muito grande. E os garotos sentem mais, é normal. A formação do Yago e do Marquinhos está na última etapa, e o Thalles, mais novo, ainda mostra lastro para crescimento. Passam por adaptação, experiências... e o Adilson é detalhista, gosta de observar, dar chance e sabe que eles precisam de rodagem e paciência também - explicou Sorato.
Ainda pouco conhecido na época, o ex-atacante foi o autor do gol do título brasileiro em 1989. Mas destacou que sua estrela não brilhou tão rápido como muitos, hoje, pensam:
- Fazia um ano e meio que eu estava no profissional. Aquilo não foi fruto do acaso, de um jogo só. Sei que me valorizou, mas passei por treinadores que apostaram em mim - ressaltou Sorato, que estreou marcando o gol de uma vitória sobre o Flamengo, em 1988.
Já Valdir desfruta o mérito de ter sido titular em dois estaduais conquistados: 1993 e 1994. No último, que marcou o tricampeonato, viu o parceiro Jardel, outro formado nas divisões inferiores do clube, padecer com as críticas e ter logo outro destino. Vendido para o Grêmio, fez sucesso internacional e chegou à seleção brasileira com muitos gols em Portugal. Por isso, Pedro Renato, um baixinho habilidoso, jogou mais a seu lado do que o ex-camisa 9.
Valdir Vasco (Foto: Agência O Globo)
Valdir fez mais de 100 gols entre as duas passagens com a camisa vascaína (Foto: Agência O Globo)
- Foi um pouco de impaciência da torcida. O Jardel não era um jogador de característica de velocidade, que trabalhasse a bola, mas fazia gols. E isso foi comprovado na carreira dele. Na época, o Vasco não tinha esse estilo de jogar em função de um cara na área e acabou prejudicando. Apesar da pressão, existe um caminho mais fácil para o garoto formado no clube se identificar. Mas há muito tempo isso não acontece lá - lamenta.
O Bigode, aliás, vestiu a camisa cruz-maltina em outra passagem - menos vitoriosa, é verdade. Mas manteve sua sina de balançar a rede, em 2003 e 2004, e ampliou esta idolatria. Na ocasião, jogou com Souza, Cadu e Anderson, que viveram o mesmo martírio de Jardel, ainda que o primeiro desta lista tenha feito o gol do título carioca, só virando inimigo quando se declarou para o arquirrival Flamengo, anos após.
Diante de uma Série B, a urgência de vitórias e da campanha regular é ainda maior, alerta o ex-atacante. Por esta razão, concorda com Sorato sobre escalá-los aos poucos. Em breve, Adilson poderá contar com Edmílson novamente, além do reforço de Rafael Silva, ex-Ituano.
- O que estão fazendo com Thalles é bom: tira, bota, entra um pouco. Ele está se preparando bem dessa forma e tem muito potencial. Agora, se eles começarem a fazer gols, aí é dificil tirar. Mas não pode pular etapas. O Vasco precisa de um time experiente - acredita Valdir.
O Vasco permanece como o recordista de artilheiros em edições do Brasileirão - são sete vezes, entre Dinamite (duas), Romário (duas), Paulinho, Bebeto e Edmundo. Além de ainda ter os três maiores goleadores no total: Dinamite, Romário e Edmundo. E, enfim, sob o comando de um presidente que conhece o caminho das redes, reacende a tradição na posição.
Lista de duplas e trios de atacantes formados no Vasco nas últimas décadas:
1992 - Edmundo-Sorato (disputavam posição)
1993 - Bismarck-Valdir
1994 - Valdir-Jardel (disputavam posição, mas jogaram a reta final do Carioca de 1994)
1994 - Pedro Renato-Valdir
1996/97 - Pedrinho-Edmundo (jogaram pouco juntos no ataque)
2002 - Ely Thadeu-Souza
2002/2003 - Cadu-Valdir-Souza
2003 - Cadu-Edmundo-Valdir
2004 - Valdir-Anderson
2008 - Alex Teixeira-Kardec
2014 - Yago-Marquinhos-Thalles