Montoya reconhece dificuldade para se encaixar em sistema de jogo no Brasil e rebate crítica sobre falhas na base


O sorriso estampado no rosto e a costumeira simpatia com todos à sua volta escondiam um jogador incomodado com a falta de sequência e com as próprias dificuldades para se encaixar ao futebol brasileiro. Exatamente depois de completar um ano no Vasco, Santiago Montoya agora se vê em um novo momento. Mais maduro e adaptado, pede uma sequência de partidas - evitando entrar em rota de colisão com o técnico Adilson Batista - para comprovar seu valor e finalmente começar a justificar o investimento de cerca de R$ 3 milhões para tirá-lo do argentino All Boys.
O colombiano de 22 anos, que assinou contrato até 2016, garante que a pressão causada pela expectativa jamais o afetou e defende-se ressaltando que teve boas atuações, como na estreia diante do Santos, na Vila Belmiro. O maior obstáculo, revela, foram as diferenças de estilo de jogo e das equipes.
- Nunca senti essa pressão, e até acho que os primeiros jogos foram muito bons. Estava contente e desfrutando. Pegamos um time tradicional, grande, depois foi contra o Grêmio e estive bem. Isso nunca me atrapalhou. Era mais os companheiros diferentes sempre, a forma como um gostava da bola, como o outro se aproximava ou não. Agora acho que não tenho mais desculpa, porque já estou adaptado. Para alguns, demora menos, outros mais. É hora de demonstrar o que esperam de mim. O clube me traz coisas boas, a torcida dá carinho e quero retribuir - avisou.
Há algumas semanas, o Al Wasl, dos Emirados Árabes Unidos, treinado por Jorginho, ex-lateral da seleção brasileira, fez uma proposta. Os investidores que uniram forças para colocá-lo em São Januário se interessaram, o Vasco também cogitou, mas o camisa 11 bateu o pé e recusou. Não acredita que seja o momento de encarar tal mercado. Ainda mais porque, apesar da irregularida, já sonha com a Copa América de 2015. Enquanto isso, clubes da Série A seguem sondando, mas a diretoria cruz-maltina já anunciou que não vai emprestá-lo.
- Para o Vasco não chegou nada oficial. E para liberar o jogador, só vendendo - reiterou o diretor executivo, Rodrigo Caetano, que vez ou outra conversa com o meia explicar a situação.
A técnica indiscutível na perna esquerda esbarra na falta de eficiência na hora de concluir a gol. O posicionamento em campo também é frequentemente discutido - e Montoya já até cobrou ter mais liberdade para ser armador do que atacante pela ponta. Em meio a tudo isso, o questionamento sobre a qualidade em seu trabalho de base é cada vez mais explícito. Juninho, ídolo do clube e ex-companheiro, levantou a bola recentemente.
Após começar no Envigado, junto com James Rodríguez, um dos craques do Mundial, foi para o Atlético Nacional com 14 anos e não vingou. Saiu em busca de uma chance na Argentina, onde tinha conhecidos, e só estreou profissionalmente aos 20, trocando o status de desconhecido pelo de revelação da competição nacional por seu desempenho contra os grandes Boca Juniors e River Plate. Com respeito às opiniões, o jogador rebate as críticas e elogia o ex-time.
- Essa base que eu tive foi espetacular, não compartilho isso. Não acho que minhas falhas dizem respeito à base. É uma falha minha como jogador, tenho coisas boas e outras a melhorar. Tudo é o tipo de treino, o esforço para melhorar em todos os aspectos. Dependo também de um time bom, organizado. Respeito a opinião, mas acredito que me desenvolvi bem.
Na entrevista coletiva após a vitória sobre o Boa Esporte, em Varginha, Adilson, então com o cargo ameaçado, desabafou sobre a quantidade de mudanças na escalação. O recado tinha Montoya e outros jogadores, como o jovem Yago, barrado, como destino evidente.
- Eu não faço média com jogador e tento colocar aquilo que é melhor no momento. Vou dando oportunidade, cabe a eles aproveitarem. E, se não der certo, coloco outro, e é assim que funciona. Eu não posso ter tanta paciência e esperar ele (jogador) fazer dez jogos para ver se tem capacidade de estar entre os 11 que começam o jogo.
Confira os outros trechos da entrevista com o colombiano:
GloboEsporte.com: Já são 12 meses de Vasco, o torcedor te dá apoio e você tem entrado em várias partidas. O que acha que falta para emplacar?

Montoya: O carinho do torcedor é importante para fazer meu trabalho. Sempre vejo os aspectos positivos para me motivar. Sei que não consegui atingir meu melhor nível. O que mais faltou foi jogar mais partidas seguidas. Todo jogador precisa de sequência. Todo jogo sair, entrar, é meio complicado. Entendo o treinador, mas sempre tenho isso dentro da cabeça e estou me preparando cada vez mais.
A adaptação ao país e ao estilo do futebol ainda estão no caminho?

- Agora já me sinto muito bem nesse aspecto. Todos são diferentes e têm um tempo para se acertar. Uns por alguma circunstância precisam de um ou dois meses, mas comigo demorou mais. Estou me sentindo bem, me entrosando com meus companheiros dentro de campo e senti que dei uma melhorada. Leio melhor o jeito que o jogador brasileiro gosta de fazer as coisas.
O ritmo do jogo é tão diferente assim em relação à Argentina?
- A mobilidade é outra, o ritmo, também. Lá o jogo é mais pausado, talvez me facilite. Aqui é mais corrido, exige outro estilo. Não é fácil chegar com 30 companheiros novos, em que um gosta que jogue longo, o outro jogue mais perto. Na minha posição isso conta mais. Lá no All Boys a grande maioria do time jogava para que fizesse meu trabalho, e no Vasco isso já é mais equilibrado. Agora conheço bem todos e sei onde posso tocar para que as jogadas deeem certo.

Passa pela sua cabeça não dar certo no Vasco ou no Brasil?
- Tenho confiança de que as coisas vão acontecer. Acho que o primeiro passado é admitir quando você está falhando. Sempre tem algo ruim para se melhorar, e temos que identificar logo. Estou apenas começando a minha carreira, tenho muito a aprender, por isso fico tranquilo.

Você ganhou massa nos primeiros meses para suportar melhor o choque. Como está sua condição física e seu peso hoje?

- Ganhei quatro quilos no total (está com 67kg e 1,73m), e os preparadores físicos dizem que estou bem fisicamente. A preparação vem sendo muito bem feita. Sempre gostei de trabalhar essa parte, cuidar da alimentação. Com o passar do tempo os músculos vão crescer mais. Mas tenho consciência de que a minha qualidade é ser leve. Meu corpo é assim e não posso mudar.
Fale um pouco sobre seu início e trajetória no futebol.
- Comecei no Envigado, um clube colombiano que revela muitos bons jogadores. Alguns estão na Copa, como James Rodríguez, Quintero, Guarín... Com 14 anos, fiz um teste e fui para o Atlético Nacional, onde joguei até os 19, quase 20 anos. Então, fui para a Argentina para a base do All Boys ainda. Passei pelo que chamam de quarta divisão, que é uma combinação de juvenis com profissionais. Era reserva e depois fui chamado para o time principal quando meu futebol foi aparecendo. E aí joguei o Campeonato Argentino como titular da equipe.

Fonte:Globoesporte.com