Juntos desde infância, Marquinhos e Yago entendem saída do time, se apegam na confiança e revelam inspiração na Copa. Lorran cresce nos treinos e vive expectativa


Quase da noite para o dia, Marquinhos e Yago viraram titulares do Vasco após terem estreado nos profissionais exatamente um mês antes. Com a barração de Reginaldo, o problema no coração de Everton Costa e a lesão de Edmílson, a vaga caiu no colo no começo da Série B. Deram conta do recado, ganharam moral para permanecer por mais rodadas, mas acabaram saindo depois. Nada de que abale as promessas, que já esperavam a gradativa conquista do espaço. Os atacantes agora trabalham, com paciência, para chegar a hora de se firmar de vez.
Contra Resende, em Manaus, e Treze, em Campina Grande - ambos pela Copa do Brasil -, a antiga parceria funcionou, e os jogos mudaram com suas entradas na parte final. No segundo exemplo, uma virada com gols de Thalles - outra joia lapidada no clube - abriu caminho para que frente a Atlético-GO, Treze na volta em São Januário, Oeste e Sampaio Correa, fossem titulares. Depois de seis temporadas, o Vasco reacendeu a tradição de revelar seus jogadores de frente e, de um modo geral, voltou a apostar as fichas na safra das categorias de base.
- Parecia ser mais difícil, mas com o grupo te apoiando e unido ficou bem mais fácil para a gente. Treinamos bem, jogamos, tivemos a oportunidade. Sabíamos que eles iam voltar. Não pode ter desânimo, deixar bater desespero. A hora que pintar (a oportunidade) de novo, temos que ter consciência do trabalho bem feito para irmos bem. O Adilson dá as duras dele e nós ouvimos, afinal foi o cara que nos botou para jogar - afirmou Marquinhos, de 20 anos.
Mesma idade tem o amigo Yago, que reforça a gratidão pela confiança e pelos toques que o técnico tem passado e não perde o sono com a chegada de Kléber para reforçar o setor.
- Estou tranquilo, vou disputar a vaga com os companheiros que estão chegando assim como foi quando os machucados voltaram. Subimos bem rápido, e o Vasco tem uma forma de jogar que nos favoreceu. Quando o treinador dá confiança, fica mais fácil. Ele que sabe que quando precisar de mim, pode contar - avisa, que tem no meia Douglas sua maior referência no elenco.
- Po, o Douglas é mau paizão, meu padrinho... Me ajuda demais mesmo. O Guiñazú também é um cara que puxa no canto sempre para trocar uma ideia. A equipe toda, só tenho a falar coisas boas. Achava que era diferente, tinha um receio até com quem podia ser marrento, mas os caras dão moral e isso facilita.
O esquema tático, aliás, mudou. Com a volta do volante argentino, o time tem sido armado nos treinos com meio de campo mais recheado - com mais Pedro Ken, Fabrício e Dakson, único armador, e dois atacantes - Kléber e Thalles.
Marquinhos e Yago concederam entrevista ao lado do lateral-esquerdo Lorran, que é um geração abaixo e ainda tem mais lenha para queimar. Sua habilidade na perna esquerda e o chute poderoso, no entanto, asseguraram seu espaço no grupo. O garoto de 18 anos vem treinando muito bem em Atibaia e sonha com o espaço depois de ter estreado também em Manaus.
- Tenho pensamento positivo e estou trabalhando bastante. Todos querem jogar, mas temos que acreditar na gente - disse Lorran, sempre convocado para a seleção sub-17 quando era juvenil.
ASSÉDIO GERA CUIDADOS
O trio está solteiro e não esconde que, quando pode, aproveita o Rio de Janeiro com os amigos. Ao mesmo tempo, as mulheres se aproximam às vezes por interesse após o início de destaque por serem profissionais do Vasco. A fama é algo tratado com cuidado pela equipe de psicólogas. Antes, Glória (assistência social), Andréia e Amanda acompanhavam todos os passos. Agora, é Maria Helena Rodriguez, que, com o trabalho integrado, já ajudava os meninos antes e não deixa nenhum problema pessoal ou interno afetar a cabeça deles.
Lorran mostrou que é consciente no assunto e afinou o discurso.
- A maioria se perde por mulher. Todo homem precisa, mas tem que saber aquela que vem para somar e ajudar. As que vem por interesse a gente tem que afastar logo - ensinou.
- Nessa hora aparece todo mundo, né? Primo que não falava, até irmão (risos) - emendou Yago.
Os conselhos de Felipe e Juninho, ídolos deles e do Vasco, foram fundamentais nessa passagem de bastão. Relacionado para viagens em 2013, o atacante teve mais contato com o Reizinho.
- Ele dizia: um dia vou parar e vocês precisam assumir. É só confiar no potencial. O Adilson botou a gente no profissional, mas o Juninho deu muita moral. Eu sou fã do Felipe também - contou.
INSPIRAÇÃO NA COPA
De olho na Copa do Mundo, os três jogadores não titubeiam em apontar os craques em que se inspiram. E têm a ver com o estilo de cada um. Marquinhos admira Bernard, baixinho como ele e que se superou para chegar à Seleção depois de ser relegado na base por ser franzino demais. A persistência garantiu grandes jogos no Atlético-MG e a venda para o Shakhtar-UCR.
- Algumas vezes me senti como ele, sim. Nunca desistiu, isso foi legal. Sempre joguei nos times do Vasco, mas disputava posição com Yago e ouvia críticas. Aí o Sorato (técnico dos juniores) nos colocou abertos e jogamos juntos - lembrou.
Já Yago não pensa em outro senão o holandês Robben, rápido pelas pontas, e vai torcer para a Laranja Mecânica, que pega a Argentina nas semifinais, até o fim. E Lorran cita Marcelo, do Real Madrid, como inspiração exatamente por ter que melhorar as mesmas características que ele.
- Depois do amistoso (vitória sobre o Atibaia), o Adilson veio até conversar comigo. Mandou eu reagir mais rápido porque estava deixando espaço atrás. Ser bom no ataque é importante, tabelar, chutar, mas preciso melhorar na marcação mesmo. Até o Marcelo, que é um jogador diferente, também tem - ponderou o lateral-esquerdo.
Em autocrítica sincera, Yago e Marquinhos admitem que o problema ainda é acertar o pé na hora de dar assistência. O drible já está no sangue, mas ser atacante não é só isso.
- Vamos no fundo, às vezes passamos pelo marcador com facilidade, mas temos dificuldade no último passe para definir a jogada - comentou Marquinhos, entoado por Yago.
- Estamos treinando muito isso. No domingo, o Adilson pegou a gente para cruzar bastante, e é importante mesmo. Vamos melhorar logo

Fonte:Globoesporte.com